sábado, 28 de novembro de 2009

CALDEIRÃO -Teatro de sombra com cordel.

Sugerimos como um projeto interdisciplinar, um teatro de sombra envolvendo as disciplinas de História, Geografia, Arte e Literatura. Trata-se da História do Caldeirão, um fato histórico real, revoltante e pouco divulgado até mesmo no universo acadêmico.
Lecionando Geografia, durante um conteúdo de agrária, indignamo-nos com a forma como acontecem as injustiças sociais, percebemos que nem sempre o povo aceitou pacificamente a opressão, existem registros de muitas lutas sangrentas, cujo heroísmo popular merece destaque.
Contamos portanto a história do Caldeirão, do Beato José Lourenço e recorremos ao cordel para introduzir os fatos.
O texto escrito pode também ser dramatizado em teatro normal, optamos pela sombra para divulgar esta técnica.
Para fazer um teatro de sombra precisamos apenas de papel vegetal que servirá de tela, cartolina e papel celofone, pois, recortamos as figuras de cenários e personagens vazando o desenho e colorimos colando papel celofone... criamos um ambiente escuro para dar destaque a luz ( pode ser feito com lençóis) É necessário dispor de uma lâmpada suspensa para focar os desenhos na tela.

Para contar a história colocamos narradores antes das sombras com as falas de cordel e um personagem no desenho de sombra como José Lourenço para narrar sua própria história. E ficou assim:

A História da humanidade
Exibe marcas de injustiça
A própria História do Brasil
É baseada na cobiça
Cito o caso dos Indígenas
Nesse instante de premissa

Estes povos que são ricos
Sábios cheios de cultura
Só por não serem iguais
Aos europeus na leitura
Tiveram seu território
Tomado em grande loucura

Depois vieram os negros
Pode a pessoa se julgar
Ser melhor do o outro
Pela cor que Deus lhe dá?

Pois um simples pigmento
Chamado de MELANINA
Foi um critério usado
Para dar a triste sina
Do negro pra ser escravo
Do branco que só domina

Mas o povo lutou muito
Não ficando submisso
O Quilombo dos Palmares
É um bom exemplo disso
Em troca da liberdade
Até a vida põe em risco

Também de que valeria
Ter vida sem liberdade?
Por isso que Conselheiro
Lutou por sua cidade
Enquanto as tropas do Governo
Matava sem piedade

Contestado e Lampião
Movimento dos Sem Terra
São exemplos de revoltas
Quando o povo faz a guerra
Lutando contra a opressão
E a injustiça que impera

Cito a guerra de Canudos
De Antonio Conselheiro
Que de Quixeramobim
Viajou sem paradeiro
Até lá em Belo Monte
Ter o seu fim derradeiro

Ele em mil e oitocentos
E noventa e seis vivia
No Arraial de Canudos
Lá no Sertão da Bahia
Pregando falando em Deus
Sua missão prosseguia

Porém as autoridades
Vendo o povo todo unido
Vivendo no Arraial
Com direito e com abrigo
Mandou matar friamente
Com o exército reunido

Aqui bem perto de nós
No início do século XX
Nas terras do Cariri
Também se deu o seguinte:
Destruíram Caldeirão
Mataram tanto cristão
Vamos contar aos ouvintes

Nesse teatro de sombra
Vamos mostrar Caldeirão
Era uma comunidade
Que vivia em oração
Mas foi toda destruída
Sem dó e sem compaixão

O Caldeirão que falamos
Não é o Caldeirão do Hulck
Prestem atenção amigos
Pois foi real não é truque
Pedimos o seu silêncio
Pra falar de Zé Lourenço
Assista, analise e julgue.

Esse fato aconteceu
Nas terras de Padim Ciço
Se por ventura você
Jamais ouviu falar disso
É porque os historiadores
Não quiseram correr risco

Aconteceu no governo
De Menezes Pimentel
Teve aplauso de igreja
De político e coronel
Vamos então a historia
Pedimos ajuda agora
A Zé Lourenço, lá no céu.

Zé Lourenço narrador
Bar noite pessoar. Eu sou Jusé Lourenço Gomes da Silva, nasci no sertão da Paraíba marromeno em 1870... Pidi permisão ao meu padim Ciço pra vim contar pra vocimicês a históra da minha cumunidade.
Cuma vosmicês já deve de ter notado, sou preto, pobre, fi de sertanejo, anarfabeto de pai, mãe e parteira...passei uma fome amuada, mas sou guerreiro, trabaiador e tenho uma histora de luta pa contar pra vosmicês.

(Narrador sai de cena e entra ele jovem com uma mala ou matulão na mão)

Aos 14 anos deixei a casa de meu pai lá na Paraíba e fui parar em Juazeiro e é lá que acontece a histora de Caldeirão.

( Ele sai com o matulão passa pelo nome Juazeiro, uma Igrejinha e Pe. Cícero dando a hóstia a Maria de Araújo)

Pe. Cícero: Corpo de Cristo
Beata: Valha –me Deus...que é isso...a hóstia virou sangue na minha boca... é um milagre, é um milagre!!!

Diversas: ÒÒÒÒÒ... milagre... meu deus....será castigo....esse padre é santo!!!!

(Todos saem de cena, Zé Lourenço encontra Pe. Cícero)

Zé Lourenço: Bença santo padre...iscuitei falar de vossa santidade, do milagre com a beata Maria de Araújo e vim lhe pidi um pedaço de chão mode eu prantar e criar uns bichim.

Pe. Cícero: Deus lhe abençoe meu filho, mas não me chame de santo não! Simpatizei com sua disposição de trabalhar. Vejo muita gente pedindo esmola mas, poucos pedem trabalho. Vou lhe conceder esse pedido. Tem uma Terra meio seca no sítio Baixa Danta que você pode trabalhar nela

Zé Lourenço: mas num é só eu não vice, tem mais umas famias precisando também...elas podem trabaiá lá cumigo?

Pe. Cícero: Pode, pode sim.

Zé Lourenço Narrador: e num é que a terra que era ruim cumeçou a dar de tudo... cada dia mais chegava gente desvalida, com fome e era amparada naquele lugar. Era uma comunidade que ao contrário das fazendas vizinhas repartia tudo igualmente.
(Zé lourenço fala pra uma moradora)

Zé Lourenço: Ta ai o Armazém...o que a gente colher vai pra lá , mas também quem precisar de comida é só pegar...o que é de um é de todos. Deus quer que a gente tenha vida farta, mas não podemos deixar de agradicer.

Na cidade

Policial: Pe. Cícero esse caboco roubou o armazém do Seu Ismerino.
Pe. Cícero: Leve-o a José Lourenço que lá ele será reeducado na fé e no trabalho... Zé Lourenço tem feito um excelente trabalho de restauração de assasinos, ladrões...

Policial: Bora meliante...

(Zé Lourenço com a cruz e seguido de um povo)

Bendito seja Nosso senhor Jesus Cristo
Para sempre seja louvado
Pra todo sempre no reino das gulorias
Amém

Zé Lourenço narrador:
Andei muito Cuma penitente, mode minguá meus pecados e agrada nosso bom Deus. A ordem dos pinitentes era uma seita secreta bastante conhecida em todo o Nordeste reunindo inúmeros adeptos os quais cobriam os rostos com capuzes para não serem identificados. As muié num pudia fazer parte não, nem oiá as possissão elas pudia. A gente caminhava em oração até algum simitéro abandonado pra se autoflagelar com lâminas cortantes presas num bom chicote.

Pe. Cícero: Zé posso lhe pedir um favor:
Zé Lourenço: Faço tudo que o Sr quizer...
Pe. Cícero: Cuide desse boi pra mim que eu recebi como doação pra Igreja e não posso cuidar dela aqui.
Zé Lourenço: pode deixar que ele vai ter do bom e do mió...

Oi minha gente, esse boi mansim aqui é do nosso padim Ciço...o que tiver do bom é pra ele, num quero nem iscuitar falar em chicote perto dele.

Surgiram Boatos, lorotas

Ladrão: HAHAHA vou roubar esse capim pra dar pro boi mansim e ganhar vantagem com o padim HAHAHA...
( o Ladrão tenta dar o capim roubado para o boi mansinho)
Pegue boi mansim o capinzinho que colhi na minha horta pra você!

Boi: buuuuuu buuuuuuu (aos saltos )

Ladrão: esse boi é santo, não quis comer o capim só porque foi roubado...perdão meu Deus perdão meu padim Ciço ... como me arrependo de meus pecados...prometo nunca mais roubar (chora amargamente)

Todos: óóóóóóó

Beata 1: Seu Zé Lourenço, posso pegar um pouco da urina do boi Mansinho... é pra curar um panariço no dedo de minha irmã.

Beata 2: E eu quiria era um bolãozim de merda dele que ouvi dizer que é um santo remédio pra introsada.

Boatos Lorotas

FLoro Bartolomeu: Eu, Floro Bartolomeu, um deputado Federal, não posso ter meu nome político sujo por conta desses heresias, eu sei que eles não adoram boi nenhum mas pra esses boatos não se espalhar tomarei uma atitude : Prendam o Beato – que me importa se ele é inocente! E o boi deverá ser abatido para dar a carne dele pro próprio Beato José Lourenço.

Zé Lourenço Narrador: Nem o mais necessitado dos mendigos lá de Juazeiro ousaram comer da carne do boi mansinho...teve gente que até chorou no momento em que o mataram! Fiquei preso 18 dias, mesmo meu padim Ciço gostando de mim não podia ir lá me soltar porque ele era envolvido com a política e não podia sujar o nome dele também... Depois tive que deixar o sítio Baixa Danta sem nenhuma indenização pelas benfeitorias feitas, foi quando fomos pro Caldeirão lá no Crato. Se chamava assim porque parecia um caldeirão...serra pra um lado , serra pra outro e uma depressão no mei.



Zé Lourenço: Nossa comunidade está crescendo...já contamos com mais de 3.000 habitantes e só de gente que passa por aqui é mais ou menos uns 6.000.
Beata: e vamos crescer mais ainda...que outro lugar por ai existe onde tudo é coletivo e igualitário...onde todos tem sua casinha, comida... por isso cada vez chega mais

Padim Ciço morreu (Muito choro)

Padre: A igreja precisa recolher as terras que Pe, Cícero cuidava, inclusive o Caldeirão...é bom que acaba com a organização daquele Zé Lourenço. Ouvi falar que ele vive em comcubinato com as beatas possuindo 16 mulheres e induz aquele povo dele ao fanatismo....

Boatos...lorotas


Zé Lourenço: Isso é um falso que eles tão me levantando... dizer que tenho 16 mulheres...logo eu que escolhi a castidade para servir só ao senhor meu Deus.

Padre: Ouvi dizer que ele recebeu armamento lá de Moscou...

Zé Lourenço: Arma lá de Moscou... se eu nem sei onde fica isso!

Padre: Vamos invadir a fazenda e tomar as terras e dar fim ao Caldeirão... se precisar matar a gente mata, são um povo fanático e Deus não quer que deixemos crescer fanatismo na terra. Eles são malvados agentes vermelhos a serviço do ateísmo soviético...são comunistas malditos!

Zé Lourenço: Se vierem matar, matarão, não sou de guerrear, nem eu nem meu povo... somos da paz.

Padre: Vamos mandar José Bezerra, o maior perseguidor de cangaceiro, para entrar no caldeirão como quem vai comprar algodão...assim ele conhece o território e nos informa sobre o que eles tem de armas.

Zé Bezerra: Armas não vi, mas pelo tanto de gente que tem lá só pode ter algum lugar onde eles escondem armamento. O certo é atacar ...já temos ordem do governador Menezes Pimentel, do secretário de polícia Capitão Cordeiro Neto, do deputado Milfont e do bispo do Crato Dom Francisco de Assis Pires. Vamos destruir o lugarejo!!!

Zé Lourenço narrador: eu soube do ataque programado pra evitar que acontecesse uma guerra fugi... mas foi em vão.
10 de Setembro de 1936

Ataque : Se preparem pra morrer desgraçados, mostrem suas armas

Beata: Temo arma nenhuma não moço, só temos instrumento de trabaiá

Ataque: Então abandonem caldeirão em cinco dias e quem for solteiro que não tem família pra carregar tem três dias apenas.

Beata: mas moço e nossas plantações, nossas casinhas, nossos laços de amizade e vizinhança moço, isso num ta certo... foram anos de trabalho pra gente abandonar assim.

Ataque: pois carreguem seus bens!

Beata: Ninguém tem nada aqui não moço, somos uma comunidade irmanada de tal maneira que a propriedade sendo de ninguém seja pra todos, uma produção de tal maneira dividida que a distribuição sendo para todos não seja de ninguém.

Ataque: Eita que deu foi um nó na minha cabeça agora... como assim é de todos e não é de ninguém? Quer saber, saiam daqui, levem essa gente para aquele curral... não precisa se preocupar em dar-lhes comida, assim eles voltarão para seus lugares de origem...e quanto ao Caldeirão....tragam aqui querosene e fósforo que daremos um jeito nisso!!!, Mas antes tirem o que tem de valor .


Fogo alto destruindo as casas.....



Personagens saindo das sombras

A história do caldeirão
Não se encerrou nesse fogo
Tinha lá um personagem
Que não aceitou o estorvo
Severino era seu nome
Tavares seu sobrenome
Reagrupou gente de novo.

A nova comunidade
Fundou em Capão do mato
Contra as tropas do governo
Pôs vigia em todo lado
De Juazeiro do Norte
Até o final de Crato

Os sertanejos porém
Se encontravam divididos
Zé Lourenço queria paz
Dar causo por esquecido
Mas Severino Tavares
Induzia o povo a ares
de vingar o acontecido


O fato é que Severino
Não deu ouvido a Lourenço
Disse ao povo: Minha gente
Quem pensa assim como eu penso
Vamos nos vingar agora
Cem adeptos nessa hora
Disseram nós tamo é dentro.

Quando a tropa do Governo
Atacou Capão do mato
Os cabras de Severino
Saindo do meio do mato
Com foice e golpe certeiro
Cortou pescoço no meio
O capitão foi decepado

O capitão dessa tropa
Que morreu na emboscada
Se chamava Zé Bezerra
Mas não ficou só na estrada
Um filho do capitão
Três soldados pelotão
Foram mortos a paulada

O fato despertou ira
E um contra-ataque cruel
Atacaram pela terra
Atacaram pelo céu
Mataram pra mais de mil
Mas quem conseguiu fugiu
Como criminoso ou réu

Os fugitivos montaram
Uma nova moradia
De nome Pau de colher
No interior da Bahia
Também foram assassinados
O crime foi ter sonhado
Viver com cidadania

E isso caros colegas
A história encoberta
Não interessa ao poder
Contá-la de forma certa
Pode precisar de escolta
Quando o povo se revolta
Muitas verdades revela

Obrigada meus amigos
Pela paciência e calma
Mas agora terminamos
De expor a nossa fala
Se merecer esperamos
Ganhar uma salva de palmas.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Estamos em tempo de SPAECE... tudo está voltado para o bom andamento desta aplicação: tensão, adrenalina, trabalho em equipe, como diz Luciano Huck - LOUCURA, LOUCURA, LOUCURA...

Em breve neste blog:  PROJETO  EDUCATIVO INTERDISCIPLINAR.
                                 Tema: AULA DE CAMPO!!!